
Para mim o Natal apenas começas quando me recordo:
"O coelhinho foi com o Pai Natal e o palhaço no comboio ao circo"
O pior é que depois se comia o coelhilnho...
Diz a ancestral sabedoria popular, que “vergonha é roubar e não poder fugir,” ou numa outra versão, “vergonha é roubar e ser apanhado”.
Agora, tentar roubar sem sucesso no furto, não poder fugir porque se está entalado num buraco e ser apanhado com as calças pelos tornozelos, numa posição tão sui generis, após 12 horas de frio… O que é? Vergonha?
O visado do furto parece que não vai apresentar queixa… Sim, percebe-se…
Que maior pena podia o larápio ter?
Estava eu a pensar…
Por norma quando existe um eclipse solar, não sou irrompido por uma imparável vontade de comer iogurte.
Bom, a bem da verdade, sempre que se dá um destes fenómenos naturais, não sinto particular vontade de consumir qualquer lacticínio ou mesmo qualquer outro alimento especifico.
Se bem me recordo, uma vez numa viagem de estudo algures no preparatório, comi uma pacote de batatas fritas enquanto via uma aurora boreal no planetário. Souberam-me bem. Não sei se por causa da aurora boreal ou por toda a comida que fazia parte dos lanches das viagens de estudo tinha um sabor diferente… o sabor habitual, tornava-se diferente pela novidade da experiência.
Mas iogurtes... nunca me deu vontade…
Uma mulher lindíssima com toda a essência do feminino na voz.Cada som transforma-se na experiência do sublime.
Não sendo um apreciador incondicional de toda a sua discografia ou reportório em que se aventurou, tiro o meu chapéu imaginário à coragem, dedicação e dignidade.
Depois de uma prestação brilhante em Eugene Onegin, seguiu-se Thaís. Uma noite ouvi-a a cantar a emblemática ária desta ópera de Massenet “Dis-moi que je suis belle” e nessa noite disse-lhe que era belíssima.Tem um novo disco, dedicado ao Verismo, esse emblemático estilo italiano. Puccini, Mascagni, Catalani, e Giordano, são alguns dos compositores, Angelica, Manon, Mimi, Liu, algumas das personagens.
O senza mamma tocou-me especialmente… deixou-me vontade de ouvir todo o papel sem interpretado por Renée Fleming.
Ouvir Renée Flemings, um verissimo prazer.
Certa actriz faz umas certas filmagens sobre certo pais. Contudo mostra certos desconhecimentos. Certos reagem, certos apoiam o humor.
Certo realizador faz um filme sobre certo artista. Certo cronista vai à justiça dizer de certa justiça. Certos gostam do filme, certos dizem que nem por isso.
Certo escritor escreve certo livro, com criticas sobre certas passagens de outro livro. Certo deputado vem dizer que o certo escritor devia mudar de necessidade e certo clérigo diz que o referido escritor é um malandreco.
Será que em vez de certas polémicas de lana caprina não se deveria respeitar certos valores, de certas instituições e pessoas.. e um tal de liberdade de expressão querida num certo dia de revolução?
Há certas coisas…
A minha memória já me atraiçoa e as informações por vezes agitam-se em demasia no meu cansado cérebro.Por lapso há uns post atrás referi o, como um dos compositores que o Coro de Câmara de Lisboa ia interpretar era José Joaquim dos Santos… e na realidade não foi bem assim.
Ao chegar a belíssima igreja do Séc. XVII vi que o programa a Apresentar se chamava Carlos Seixas e os seus contemporâneo… e o José Joaquim dos Santos não fazia parte.
D. João V, o Fidelíssimo, religioso fervoroso, amava tanto a igreja que adornava e dourava com a mesma intensidade os altares das igrejas como os aposentos da Madre Paula de Odivelas, trás para Portugal alguns privilégios papais e os cerimoniais longos e faustosos. Tais grandiosas cerimónias exigiam pomposos momentos musicais, e Carlos Seixas será um dos compositores que mais se destaca na música sacra de seu tempo.
Nascido em 1704, é um exímio músico de instrumentos de tecla – Cravo e órgão – para os quais compões inúmeras peças. Leves, de linguagem simples e elegantes, as composições de Carlos Seixas tornam-se únicas no estilo, por não serem influenciadas pelas composições estrangeiras e manterem um espírito português.
Recordo-me de ter ouvido a belíssima Missa na Igreja de São Roque.
Tenho ir comprar o CD, existe até com o Dixit Dominus, Tamtum Ergo e umas Sonatas para órgão dirigido pelo Keitil Haugsand, E penso que os Segréis de Lisboa também a gravaram.
Já que hoje também não posso assistir ao "mítico" Otelo musicado pelo “imenso” Verdi e que soará em Portimão sob a batuta de Ferreira Lobo , e como nem sempre a minha memória está em bom estado.
Aponto aqui duas manifestações culturais que me suscitam o interesse.Os compositores portugueses perseguem-me… e ainda bem pois ajudam-me a relembrar bons momentos, momentos que guardo com saudade e me fazem sorrir.
O Coro de Câmara de Lisboa e a sua maestrina e fundadora Teresita Guiterrez, irão até à Igreja da Misericórdia de Torres Vedras Para um concerto de música sacra e de entrada livre. O reportório? Maioritariamente português do e XVIII – Scarlatti, Carlos Seixas, José Joaquim dos Santos e Marcos Portugal.E por ser no Oeste destaca-se o José Joaquim dos Santos, também ele um homem do oeste, nascido em Óbidos, mais propriamente no senhor da Pedra, no ano de 1747. Seguiu o caminho dos agraciados com o talento musical do seu tempo e passa por Itália onde estuda e trabalho. Vem a falecer em Lisboa, estimando-se que, no anos de 1801.
Chegaram até aos dias hoje, apenas duas pelas profanas (uma Écloga e uma Cantata Pastoril) sendo o grossa da sua produção dedicada à música sacra (Antífonas, Missas, Motetes, Ofícios, Salmos, Responsórios, Septenários e uma oratória). De alguma forma é um compositor que colide com o gosto essencialmente operático de D. José e de D, Mariana Vitoria mas une-se em perfeição com a religiosa e “Muy pia” senhora, D. Maria I.
Pessoalmente só conheço o “Septenário de Nossa Senhora das Dores”, que ouvi na Igreja de Santos-o-Velho, extremamente, e surpreendentemente, pelo coro do do Teatro Nacional de São Carlos. A composição respeita o estilo da época em voga em Portugal e em Itália, apresentando-se profundo e dramático.
A cidade de Óbidos, enquanto cluster cultural que se assume, e terra mãe deste compositor, tem sido lugar de estudo e de representação ou expressão deste compositor. De louvar.
De louvar também o percurso destas, e de outra instituições, que descentralizam as actividades culturais, lutando contra o preconceito e criando, e educando, públicos.
Já hoje, amanhã e Domingo, o Teatro Camões recebe 3 peças e 3 coreógrafos: “Seranade” de George Balanchine, “À Flor da Pele” de Rui Lopes Graça e “Four Reasons” de Edward Clug.Se não for para Salamanca, vou lá meter o nariz
Ontem numa conversa de almoço, alguém me perguntou:
“Porque é que existem pessoas más?”
A pergunta teve a genuinidade de uma criança. E sim, porque é que há pessoas más?
Pessoas verdadeiramente e visceralmente más?Quando penso em pessoas más lembro-me sempre do Heathcliff do Wuthering Heights. Será ele intrinsecamente mau ou apenas um reflexo de uma sociedade, e de uma educação? Será uma exteriorização do id Freudiano? Ou será um bom selvagem de Jean Jacques Rosseau e que reage aos males de uma sociedade como de um cão de Pavlov se tratasse?
Penso, e talvez levianamente, que as pessoas são más para se vingarem das agruras da vida, para manifestarem a revolta de serem subjugadas, para se sentirem melhores que os outros, que julgam ser ainda piores…
Pois isso respondi:“Porque dá muito trabalho resolverem-se e serem boas!”
Ou não há nada ou há muito com interesse.
Na próxima sexta-feira dia 16 vou ao bailado. “Nortada” ao TMA.
Mas no mesmo dia e quase a mesma hora o Salão Nobre do Teatro Nacional de São Carlos, apresenta um programa interessantissimo.
Ludwig van Beethoven
Rondino para octeto de sopros em Mi bemol Maior, WoO 25
Wolfgang Amadeus Mozart
Serenata nº 10 para sopros "Gran Partita", em Si bemol Maior, K 361
Recordo-me da primeira vez que ouvi esta peça, que Mozart compôs no início da década de oitenta do séc. XVIII e que dividiu em oito expressivos movimentos.
A inquietante “Gran Partita” para sopros, a mim não me surpreendeu pelo virtuosismo da execução mas sim pela sofisticação da sonoridade, conseguida pelas diferentes cores dos sons dos 13 instrumentos que o compositor de Salzburgo orquestra com a magnificente mestria. As serenatas são uma forma musical muito associada ao divertimento. Sendo muitas vezes executadas em bailes e festas. No entanto, a formação invulgar para sopros, a surpreendente consistência e a sua singular duração de cerca de 50 minutos, tornam esta peça única e sublime.
Quanto à peça de Beethoven conheço muito mal…
Seria uma óptima oportunidade de a conhecer melhor e por apenas 10 Euros… Contemplando o som e a decoração neoclássica com reminiscências do barroco do salão nobre (inaugurado com o nome de “Salão das Oratórias” sendo as pinturas do tecto atribuídas a Manuel da Costa).
É com expectativa que vou até à Gulbenkian ouvir La Zaira, do emblemático e olvidado compositor português, Marcos Portugal.
Marcos Portugal , nasceu em Lisboa no ano de 1762 e vem a falecer no Rio de Janeiro, a 17 de fevereiro de 1830). É um dos mais prolíficos compositores portugueses de todos os tempos, muito conhecido e conceituado no seu tempo, viu as suas obras serem aclamadas um pouco por toda a Europa, sobretudo na Europa de gosto “italianizado”. Compôs durante a sua carreira mais de 40 óperas (Frasas, drammas e tragedias per musica, drammas giocosos e serios) música sacra: missas, motetes, hinos, vésperas, matinas, algumas das suas peças para o imponente conjunto de seis órgãos da Basílica de Mafra e ainda modinhas e músicas patrióticas (quer Hinos quer música para as cerimonias reais).
A sua extensa obra encontra-se distribuída por vários arquivos e bibliotecas em Portugal, Brasil, Itália, França, Inglaterra, Espanha, Bélgica e Estados Unidos da América. Não querendo avaliar o nem o estado nem os apoios às artes, não posso deixar de referir que este é um compositor pouco estudado e interpretado. E cuja vasta obra é alvo de pouquíssima gravações, existindo apenas no circuito comercial as óperas: Le Donne Cambiate e Lo Spazzacamino e mais umas coisas salpicadas.
Por inúmeras razões este compositor para mim é emblemático e felizmente já tive a oportunidade de assistir à interpretação de algumas peças suas, inclusivamente uma das árias do soprano de La Zaira, e, modestamente, considero essa peça belíssima.
La Zaira estreou em Lisboa em 1802 com libreto de Mattia Botturini sobre paradigmático texto de Voltaire. As dicotomias do amor e da religião atormentam a escrava cristã Zaira e o sultão muçulmano Orosmane.
Estou curioso…
Li algures uma vez, uma pequena historia.
Um cortesão foi perante o Rei Luis XIII de França. Relatou-lhe uma história e clamou por justiça. O rei disse então: “Ouvi-vos com o ouvido direito e vou agora ouvir a outra com o esquerdo.”
Teremos de convir que foi uma sensata decisão. Que nem a justiça nem o julgamento são herméticos.
Teremos de convir, que muitas vezes não nos reservamos a este dever, ou a este direito… Talvez impressionados pela iconografia da justiça, julgamos sem ver, muitas vezes sem ouvir nem sentir.
Julgamos pelo prazer de nos sentirmos superiores, quase que divinos.
Julgamos pelo necessidade de nos sentirmos humanos e pelo menos de nos sentirmos inferiores.
Julgamos o frívolo, o trivial, o supérfluo.
Julgamos a exteriorização.
Esquecemo-nos porém que também somos julgados. Mas quando se passa de juiz a réu os sentimentos mudam e julgamento já não nos faz sentido sem nos verem o brilho dos olhos ou ouvirem o som da nossa voz. Somos iconoclastas da senhora vendada e armada.
O vox pop diz que não se julga para não se ser julgado.
Mas se julgarmos, reunamos os elementos necessários e ponderemos as variáveis.
Já vão distantes os tempos em que Rubens pintou as suas rubicundas ninfas, os roliços deuses, as rechonchudas mulheres e anafados homens…
Voluptuosos e grandes seios brotavam dos apertados corpetes, carnes generosas pulavam sobre as togas e redondas formas desenhavam os corpos na altura perfeitos e belos…
Penso que aquela gente deveria ser feliz… Não contavam calorias, não tomavam milhentos medicamentos para emagrecer e não tinham de se convencer que gostam de estar metidos num barracão a transpirar em comunidade com desconhecidos…
Porque é que deixamos chegar a este ponto… A este conceito esquálido e informe de corpos esqueléticos…
Ah, esquecia-me, nunca ninguém gosta… gostam sempre de tudo com mais carnes… Mas o ícones de beleza não têm carnes… nem gorduras, nem forma arredondadas… aliás, são tão magros e secos, que eu chego a duvidar que eles tenham alguma coisa, liquida ou sólida, na boca desde os 13 anos, e que tinham qualquer tipo de actividade que não seja irem ao ginásio… Profissão, ir ao ginásio…
Nunca ninguém gostas, mas passamos o dia em dietas, a ter atenção ao que comemos, a não comer, a transpirar, a tomar medicamentos, drenantes e coisas várias para estarmos magros…
Aos corpos que vislumbramos perfeitos… nunca o são…
Bom, vamos a mais privações. Havemos de ser belos e magros.
Ser magro, essa almejada realidade que todos buscam, mas ninguém assume querer.
O que diria Rubens se tivesse como modelo a Twiggy? Porque é que não a trouxeram para Portugal e a encheram com um pasteis de bacalhau, umas pataniscas, feijoadas, ovos moles e demais iguarias. Hoje seriam todos um pouco mais felizes...
TURANDOT
Estrangeiro, escuta:
Na noite escura voa um fantasma iluminado.
Sobe e abre as asas sobre a negra infinita humanidade.
Todo o mundo a invoca e todo mundo a implora.
Mas com a aurora o fantasma desaparece para renascer no
coração. E cada noite nasce e cada dia morre!
CALAF
Sim! Renasce! Renasce!
E em regozijo leva-me consigo,
Turandot - a Esperança!
Se um dia abríssemos a nossa Caixa de Pandora, o misterioso local onde encerramos os nossos segredos, medos, angustia, tristezas e males, o que aconteceria?
Decerto não sairiam contas coloridas e de metais preciosos para adornar o colo e os pulsos, pois tal como na caixa de Pandora, a original, o material não tem lugar.
Se essa caixa aberta jorrasse tudo de nós, a quem tem interesse? Seriamos detentores do nosso passado? Seriamos experimentadores das nossas sabedorias acumuladas? Cresceríamos regados pelo que aprendemos?
Talvez fossemos mais crentes no futuro e o sorriso mais fácil. Aquele sorriso fresco e solto da inocência das crianças!
Como todos tenho a minha caixa. Nela guardo os meus males
Às vezes, sozinho, abro-a… e de lá tiro o que já não faz sentido.
Às vezes, acompanhado, abro-a… e de lá tiro o que faz todo o sentido.
Quando o riso que nos fazia sorrir, o olhar que nos fazia brilhar e a existência que nos fazia existir desaparece?
Sem máscaras viveremos, acreditando que um dia voltaremos a sentir o sangue a correr nas veias.
“Achamos sempre que as pessoas serão incapazes de fazer aquilo que nós não faríamos”
Ouvi esta frase algures durante esta semana e desde aí tenho pensado nela recorrentemente. A frase não me parece original e existirão, por certo, inúmeros ditados, frases feitas e provérbios de nacionalidades e origens múltiplas que encerram em si esta ideia.
Será que pretendemos que todos devem ser como nós? Será que todos têm de ser como nós? Somos nós melhores que os outros?
Por um lado pretendemos conhecer o nosso semelhante, o nosso interlocutor, quem se cruza na vida connosco. Mas haverá espaço para cada um manter as suas características?
Os nossos valores, aquilo em que acreditamos, os nosso fundamentos, são apenas nossos ou exigimos que sejam partilhamos por toda uma cultura ou mesmo policulturalmente?
Penso que é normal acreditar que comungamos todos os “bons” valores! Mas e se os valores comuns não são bons?
Acredito sempre que o outro é bom. Acredito até que ele é melhor que eu, e incapaz de fazer aquilo que faço passível de condenado. Mas na realidade, somos todos iguais…
Não estou vendado, nem nas mãos tenho uma espada e um balança… Não sou fiel de nada nem de ninguém. Mas gosto de me rodear daqueles que me amam e que eu amo… Gosto de me rodear de quem ama valores, para mim, fundamentais…
Um dos prazeres de que sou admirador é o da comida…
Situado junto à Pousada de Estremoz, este fabuloso restaurante deve o nome à célebre lenda do milagre das rosas e da Rainha Santa Isabel. E de passagem por aquelas terras ou fazendo a viagem propositadamente já lá me deleitei com opíparas refeições.
O ambiente é confortável e sóbrio. Um local onde nos lembramos que o rural pode ser sofisticado.
Da cozinha vêm, sobretudo, os aromas e os sabores da região -ao Alentejo, recorrendo aos melhores produtos que esta região oferece, o porco preto, o borrego, os enchidos e as ervas aromáticas, elaboradas trazendo à memoria receitas antigas. A carta de vinhos aprazeria a Baco e as sobremesas conventuais quase que me faz agradecer aos pais que durante séculos enclausuraram as filhas em conventos com ricos dotes de açúcar e especiarias.
Pulam as minhas papilas gustativas quando me lembro do pão, da sopa de beldroegas, da empada de caça, da cela de borrego e da encharcada.
Foram sempre momentos de prazer e em excelente companhia…
A não perder o mais recente trabalho de Cecilia Bartoli, desta feita dedicado aos Castrati. Uma cantora que nos tem vindo a presentear com verdadeiras raridades e descobrindo reportório há muito esquecido.
Mestre nas ornamentações vocais, trilos e coluraturas, Cecilia Bartoli mostra-nos os resultados de um técnica vocal apurada e das aulas que iniciou ainda na infância com a sua mãe.